sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O campeonato que vou



Eu vou
Pra luta com nove jogadores
Que medo não atrapalha                                          
Sei que também há flores
Nos campos da batalha

Não há trave que impeça
Medida que me meça
Caçada que não pegue
Mordida que não sare
Pare que te quero
Vestida de francesa
Carrasco que me beija
Bandeira não deixa
O triunfo que se deseja

Eu vou
Pra sexta pra cobrar                              
A anulação do seu juiz
Eu jogo em luta
A marcação é agarrar
Seu filho da disputa
Antes do fim ele me diz
Qual cartão que  quer ganhar?

Eu vou sair
Eu vou partir
Eu vou sorrir

Eu vou
Fazer falta na mentira
Reserva não tem gás
Resultado não se vira
Conversa que se cai
Na área de primeira
Pra ver onde se chega
Só termina com o apito
Seu carrinho não me pega
Não te vejo mas te finto
E te driblo sem receio
Da torcida vou com grito
Bola pro mato
Você eu escanteio
O jogo vale é o campeonato


terça-feira, 11 de setembro de 2012

Apoliticamente, a FIFA protege a ditadura e expulsa a democracia nos campos do Chile




"Não vou renunciar. Colocado no caminho da História pagarei com minha vida a lealdade do povo. E digo que tenho certeza de que a semente que deixamos na consciência digna de milhares e milhares de chilenos não poderá ser ceifada definitivamente. Eles têm a força, poderão submeter-nos, porém não deterão os processos sociais nem com crimes nem com a força. A história é nossa e é feita pelo povo".
últimas palavras de Salvador Allende transmitidas por rádio durante o cerco ao La Moneda.



O uso e abuso da história - Pelas coincidências que só a história oferece através do calendário, o Chile enfrenta a Colômbia pelas eliminatórias, no emblemático 11 de Setembro. Nesse dia em 1973, o presidente, eleito democraticamente, Salvador Allende, sofreu um golpe que instaurou uma ditadura sanguinária. O jogo de hoje seria no Estádio Nacional de Santiago, palco de torturas e execuções durante a ditadura Pinochet. A torcida, nome dado ao povo no estádio, do Chile preparava manifestações, a maioria saudosas homenagens a Salvador, o valente. 


O que faz a FIFA? Proíbe o jogo de ser realizado no Estádio Nacional alegando manter o caráter “apolítico” da entidade. Atitude condizente com o caráter hipócrita da organização que monopoliza o jogo.
O Chile joga contra ninguém e faz o gol mais triste de todos
Pouco tempo depois do golpe, no mesmo ano, o Chile enfrenta a União Soviética pela repescagem da Copa do Mundo de 1974. O local escolhido para o jogo da volta foi o Estádio Nacional, aquele mesmo dos massacres e masmorra da dignidade humana. Os jogadores da URSS se recusam a entrar no campo com uma declaração que entraria para a história: “Não jogaríamos em Auschwitz, não vamos jogar aqui.” De nada adianta o protesto soviético, a seleção chilena entra em campo sozinha e marca o gol mais triste do futebol, contra ninguém pois seu adversários se solidariza com a o sofrimento do seu povo. A FIFA confirma a vitória do Chile, classificado para a Copa, e pune a URSS, com a exclusão de competições internacionais. A entidade a época era dirigida por Stanley Rous, notório defensor do Apartheid. Em 1961, a África do Sul brutalmente segregacionista é expulsa da Confederação Africana, Stanley não hesita em defender o que acredita: suspende todos os países africanos da entidade em resposta ao boicote contra o racismo, exceto, claro, a África do Sul branca.  
Ao invés de jogadores, soldados e mortes

Assim a FIFA se fez, e se faz, apolítica: impedindo manifestações democráticas e tudo que pode parecer popular. “Apoliticamente”, a cínica FIFA serve como instrumento para ditaduras que bebem sangue do próprio povo e regimes violentamente racistas. A classificação da seleção chilena para a Copa de 74, baseada no fantástico time do Colo-Colo de 73, evidentemente foi utilizada por Pinochet. Da mesma maneira, a manutenção da África do Sul racista nos quadros da FIFA, em detrimento, de todo o continente legitimou o regime do Apartheid.


Não se trata da atitude isolada de um presidente em uma época especifica, a FIFA sempre soube entender onde estava o poder e com quem estava o dinheiro. Sempre contou com a cumplicidade da mídia, que exemplarmente demonizava a URSS e citava a África do Sul e Chile como sucessos de ordem. A mídia ecoa a linguagem FIFA: os interesses da FIFA são sempre chamados de “exigências” pelos jornais, a escandalosa corrupção são ditas “transações” e o autoritarismo é batizado “questões de seguranças”, como a vergonhosa proibição do jogo em um templo do esporte mausoléu do povo chileno. Valente, a hincha do Chile não cederá, homenageará seus heróis e reverenciará seus mortos, apesar das covardias com o selo FIFA. Cabe ao Brasil se solidarizar com o passado e presente dos amigos ao sul, mas com um olho aberto para o futuro: a Copa de 2014 está aí. A história também, ninguém se esqueceu de quando se jogou e não se jogou no Estádio Nacional.



segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A fantasia será livre


Os oprimidos fazem a revolução
Hoje tomam a rua em cordão
Bebem, pulam, cantam, descem e amam
E bebem, dançam, celebrando o fim da solidão

Mas uma coisa de fora pra dentro
Avassaladora de mim toma conta
Inevitável chega o momento
A verdade na ponta enfim vem à tona 

Corre pra pintar o muro
Mas um Batman já atua no escuro
Foge pra aparar o jardim
Mas lá brinca outro alerquim                              

Aqui não cabe a perfeição                                   
É hora da improvisação
Pela multidão abre passagem
Na raça conquista a praça
Com a bailarina divide espaço
Em meio a brilho e tatuagem

Não me leve mal
Não fui eu o primeiro
Mas hoje é carnaval
Vou me já agora
Pois lá a hora faz banheiro

O alivio é interrompido
O grito não pode ser contido
Por trás da peruca colorida, um oficial
Me diz: “Estás prejudicando a ordem municipal
Tava seguindo os pingos da tua trilha                                             
Essa é uma praça de família
E se te passa uma mãe com a filha?”

Elas não envergonharia
Sorrindo assim eu pediria:
 ”Minhas amigas queridas
Tirem essa fantasia de família
A dança também é bendita
Não precisam de tanta dureza
Basta ser flexível
Com as pernas e a com cabeça
Só a vergonha é insensível
Afaste os pés com a razão
Deixe fluir livre longe da proibição

Domingo tudo se permite
Solte sua alegria
Nenhuma lei diz que tem limite
 Tenham fé
Que um dia
Vocês também mijarão de pé”