Sem exageros, pode-se dizer que o preço dos transportes está pela hora da morte. Tremenda verdade, mas baita injustiça: a morte só cobra uma moedinha para atravessar o rio. Para cruzar nosso Rio são, no mínimo, três moedas.
sexta-feira, 14 de junho de 2013
sábado, 1 de junho de 2013
Reconhecer o corpo
O Feriado de Corpus Christi - corpo de Cristo - celebra a instituição da Eucaristia, representando simbolicamente a sacralidade do próprio corpo e sangue de Jesus. Cinqüenta dias após a crucificação, “o Cristo é como quem foi visto subindo ao céu/ Subindo ao céu / Num véu de nuvem brilhante subindo ao céu”, como bem descreve Gil. Antes de arrebatar, no entanto, Jesus foi um foragido político de uma potência colonizadora na Palestina. Preso, foi açoitado, violentado e torturado por sua visão de mundo.
“Eucaristia”, em grego antigo, significa “reconhecimento”, reconhecer a escolha pelo sacrifício do corpo, em nome da superação das mazelas, da alma e do corpo, da humanidade. Jesus oferece seu corpo à tortura na esperança que nenhum outro padecesse do mesmo sofrer. O dia do corpo de Cristo reconhece a grandeza do torturado perante a infinita miséria do torturador.
Na mesma Palestina onde Jesus chorou, há torturas ainda; na América Latina em tempos recentes e presentes também. Igualmente realizadas por agentes do Estado em nome de governos títeres, a serviços dos interesses imperiais. Não há perdão sem arrependimento, não existe arrependimento sem o desejo real de justiça. Reconhecer Jesus em todos os corpos torturados, para que nenhum corpo seja usado como instrumento de crueldade é a possibilidade mais bonita da celebração da eucaristia. E a menos romana.
terça-feira, 28 de maio de 2013
A história de um nobre
Em 28 de maio de 1963, morreu Fernando.
![]() |
Fernando |
Esse nobre vagabundo, vivia nos bares e concertos, onde se encontrava com artistas, intelectuais e políticos. Era de todos e de ninguém, um livre. De aguçado ouvido e rígida crítica, Fernando era taxativo: se gostava da música, balançava o rabo e acompanhava a canção com latidos, do contrário, logo rosnava. Os relatos publicados sobre os espetáculos contavam com a opinião de Fernando. Certa vez, Fernando foi capturado pela carrocinha, sendo libertado por uma rebelião popular. Se durante o natal, Fernando aparecesse em uma casa era sinal de boa sorte.
![]() |
Estátua de Fernando |
Quando Fernando morreu, uma multidão acompanhou seu funeral pela cidade, ao som da banda municipal. Sua lápide diz: “A Fernando, un perrito blanco que, errando por las calles de la ciudad, despertó en infinidad de corazones un hermoso sentimiento.” Hoje em Resistência, no Chaco argnentino, existem três estátuas de Fernando e um dos acessos da cidade saúda:
”Bienvenido a Resistencia, ciudad de Fernando.”
”Bienvenido a Resistencia, ciudad de Fernando.”
domingo, 26 de maio de 2013
Borussia X Bayern
Muitos "acusam" o futebol de ser um instrumento alienante da sociedade. Preconceito puro. Marx define a alienação como o não-reconhecimento do homem no fruto do próprio do trabalho: ao invés de libertar, o trabalho escraviza; ao invés de humaniza-lo, coisifica-o.
A mais pura revolução dos trabalhadores em favor da emancipação do homem
O futebol , como a arte, humaniza o homem. Que o diga as lágrimas do torcedor e o olhar furioso, indignado e melancólico da torcedora. Enquanto você grita gol, você se liberta. Quando perde também.
terça-feira, 14 de maio de 2013
abole
Quem não quer
Se amigo do rei
Tem tudo com nada
Só ter uma falsa risada
Pra o inimigo a lei
O haiti é ali
Não estou quase lá
Um para mim
A rua não há
A ilha é aqui
O Sol do destino
Há muito escrito
Não brilhou no menino
Sobrou o não-dito
Ficou o não visto
Perdida a coragem
Tudo sabe a sabotagem
Zumbi não foi morto-vivo
(Virá que eu vi)
É vivo
Que se recusa a morrer
Da Origem a Origem
Ensina a Bíblia
Por palavra e principio
O Pecado é a dívida
A dívida é o pecado
É cara o combinado
Se há uma conta
Alguém tem que quitar
O escravo que afronta
Sabe aonde vai parar
Ao dever, deve o devedor
Cobra a cobrança do cobrador:
”Também deves temer
”Também deves temer
Pois sempre terás o dever ,
O dever de cobrar”
O inferno não pode esperar
O céu não pode vingar
A criação de novas dividas
A invenção de novos pecados
Deve ser muito bem dividida
Por toda família
Mas pela palavra vem a boa
Se há culpa não sobra pessoa:
A poesia é a aliança
Contra a herança da vingança
Se há culpa não sobra pessoa:
A poesia é a aliança
Contra a herança da vingança
Palavra que dança
Alcança a esperança
sexta-feira, 22 de março de 2013
A Aldeia e a Bola
A lembrança que restará dos índios do Maracanã será sintomática: o nome da bola da copa, "Cafuza", é a forma pejorativa com a qual os colonizadores se referiam a miscigenação entre índios e negros. A bola terá a hegemonia da memória dos primeiros habitantes dessa terra. Evidentemente, o rolar da bola emanará alegria e, aos olhos do mundo parecerá uma homenagem a essa história. Assim, a bola será o que resta de indígena nessa copa. A imagem permitida dos índios do Brasil - eles não tem nome - será a bola alemã. Trata-se de um genocídio, pois, como lembra Deleuze, o genocídio não é só o extermínio físico, mas ideológico: "a própria essência do genocídio: decretar que um povo não existe, para negar-lhes o direito à existência."
Hoje o povo indígena resiste em aldeia, amanhã existirá em uma bola
Assinar:
Postagens (Atom)