sábado, 1 de junho de 2013

Reconhecer o corpo

O Feriado de Corpus Christi - corpo de Cristo - celebra a instituição da Eucaristia, representando simbolicamente a sacralidade do próprio corpo e sangue de Jesus. Cinqüenta dias após a crucificação, “o Cristo é como quem foi visto subindo ao céu/ Subindo ao céu / Num véu de nuvem brilhante subindo ao céu”, como bem descreve Gil. Antes de arrebatar, no entanto, Jesus foi um foragido político de uma potência colonizadora na Palestina. Preso, foi açoitado, violentado e torturado por sua visão de mundo.

“Eucaristia”, em grego antigo, significa “reconhecimento”, reconhecer a escolha pelo sacrifício do corpo, em nome da superação das mazelas, da alma e do corpo, da humanidade. Jesus oferece seu corpo à tortura na esperança que nenhum outro padecesse do mesmo sofrer. O dia do corpo de Cristo reconhece a grandeza do torturado perante a infinita miséria do torturador.

Na mesma Palestina onde Jesus chorou, há torturas ainda; na América Latina em tempos recentes e presentes também. Igualmente realizadas por agentes do Estado em nome de governos títeres, a serviços dos interesses imperiais. Não há perdão sem arrependimento, não existe arrependimento sem o desejo real de justiça. Reconhecer Jesus em todos os corpos torturados, para que nenhum corpo seja usado como instrumento de crueldade é a possibilidade mais bonita da celebração da eucaristia. E a menos romana.

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