quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O nome do Blog - Uma homenagem à homenagem de Raul

Raul Seixas é critério definitivo de verdade neste blog: o que Raul canta é tomado verdade. O baiano foda não ocupa o lugar que merece no panteão da música brasileira. O gênio, muito a frente do nosso tempo, é sempre injustamente lembrado apenas como "Maluco beleza" ou "doidão mistico". Nada mais apropriado para uma sociedade reacionária, qualificando dessa maneira o cantor, rebaixa-se o teor e o poder da sabedoria que transmite.

"Inferno é o fogo do sol" é um verso da canção espetacular Baby,  uma  maravilhosa afronta lamentavelmente renegada ao esquecimento. Baby é versão de outra música do próprio Raul, Tânia. Composta em 1977, Tânia é uma homenagem a terceira esposa de Raul, Tânia Barreto. Tanto Baby quanto Tânia abordam sexualidade e dividande de maneiras originais, não rseparando-as como uma dicotomia, mas sim com ambas se afirmando. Não existe separação entre sexo e deus, quem tenta estabelecer uma ruptura são os recalcados que tem na negação à vida seu ato criativo. Gente que vive nas beiras não sabe que deus não é tão mal assim.

Tânia

Tânia, esquece o despeito das freiras,
Gente que vive nas beiras
E nunca se atreve ao profundo,
Fogo, negro, centro do mundo,
Deus está no puro e no imundo.

Teu rosto mostra o receio
Que pulsa do arfar do teu seio,
Teu corpo seco ou molhado,
Foi feito, prá, prá
Ser mesmo tocado por deus.



Raul percebe obviedades que a hipocrisia religiosa não quer enxergar: se deus está em tudo, está presente também no que se considera imundo. Raul vai além, se a divindade tem sua razão na criação, o ato sexual, sendo pura criação natural, é uma ação puramente divina.

Baby  não é tão contudente quanto Tania, talvez por isso Raul escolheu a primeira para o álbum "Abre-te Sésamo". Direta e sincera, Tânia, é uma declaração poderosa de amor. Baby, por sua vez é mais doce, cheia de malícia se adequa melhor a melodia "meiga". Duas obras desafiadoras: uma filha da outra, vindouras do mesmo pai genial e doidão. Santa promiscuidade.

Baby



Baby, hoje 'cê' faz treze anos,
Vejo em seus olhos seus planos,

Eu sei que você quer deitar
Não dá ouvido à razão, não
Quem manda é seu coração

Oh Baby,
 

Abraça seus livros no peito,
Esconde o que é tão perfeito,
Eu sei...


Baby,
A madre da escola te ensina,
A reconhecer o pecado,
E o que você sente é ruim
Mas, baby, baby, Deus não é tão mal assim,
não, não, não, não, baby...
 

Grande álbum
No quarto crescente da lua                                         
Descobre a vontade que é sua

Eu sei...
A mancha de batom vermelho,
Por que esconder no lençol,
Se dentro da imagem do espelho
baby, baby, o inferno é o fogo do sol
não, não, não, não, baby,

Hoje 'cê' faz treze anos...

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