quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Ignorar as rivalidades é a real vitória da mídia


Rivalidade, regionalismo e mídia - Existe uma corrente forte nas redes sociais a pregar que se torça pelo título do Vasco. A movimentação tem mais motivação na antipatia pelo outro aspirante a taça, o Coringão, do que pela simpatia pela Cruz de Malta. Normal, o Corinthians tem a segunda maior torcida do país e grande apoio da mídia paulista, que tem um discurso provinciano mas tem alcance nacional. Enquanto o Vasco é o anti-Flamengo, o time de maior torcida, sempre apontado como a “encarnação do mal” e outras demonstrações de medo das demais hinchas do Brasil. Diante desse cenário, é natural que torcedores paulistas, rivais do Timão, apóiem o Vasco; também previsível que torcedores “alheios” a disputa, como mineiros e gaúchos, por exemplo, fiquem com o Bacalhau.
Agora, há nessas torcidas uma ação que foge da lógica: torcidas cariocas, rivais do Vasco, torcendo pelo... Vasco. Com a mesma argumentação das torcidas distantes da disputa: “Não quero que ganhe o Corinthians, time sujo, da Globo, da CBF, do Neto, das maracutaias e da mídia paulista.” Um pensamento justo, menos para os torcedores cariocas. A corroboração dessa afirmação por parte de tricolores, botafoguenses e até flamenguistas é reveladora.
Uma das alegrias de ser campeão é poder zoar, rir da cara, humilhar, infernizar e ofender nossos amigos e entes queridos. A vida costuma não respeitar escolhas futebolísticas e as pessoas acabam se relacionando com torcedores dos mais variados times. E não importa a beleza da existência daquele individuo que amo, se não escolheu meu time, está errado e merece sofrer. Um dos prazeres mais doces de viver o futebol. Por que recusar-lo então?

A resposta está na dimensão que a mídia tomou no futebol e no cotidiano mesmo. Lamentavelmente, se dá mais atenção às mídias que as pessoas. “Não quero ver o Neto comemorando” ou “A mídia paulista vai encher o saco” ou ainda “A Globo e o Ricardo Teixeira não podem ter esse gostinho”. Uma lástima. Renegar o lado pessoal, esquecer a rivalidade construída pelas pessoas e torcer a favor do seu rival é a maior vitória que se pode consagrar, justamente, a grande mídia suja. Quem tem as pessoas no mais alto grau de consideração, não despreza as rivalidades, pelo contrário, as alimenta. Se for para torcer pelo rival por raiva da mídia é para se desistir do futebol.É a vitória do futebol moderno, que quer o esporte como espetáculo, não como palco maior das tragédias e paixões humanas. Como o sentimento paradoxal da rivalidade: Um rival ama odiar o outro. Por respeito ao Vasco e vascaíno, para a celebração do que de melhor existe no jogo, Flamenguistas, Tricolores e Botafoguenses devem torcer pelo Timão. Aí sim estarão dizendo: que se foda a CBF e as mídias. Nossas paixões estão muito acima das sujeiras delas.

Meu inimigo, cúmplice da minha paixão – Em a Genealogia da Moral e Além do Bem e do Mal, Nietzsche expõe duas visões distintas do inimigo: As sociedades nas quais predominava a ética nobre, grega e romana, por exemplo, o inimigo era visto como essencial para o guerreiro nobre. O guerreiro nobre respeita seu inimigo como realce para sua própria vontade e ação e, para ser piegas, “o respeito já é uma ponte para o amor...”. Por ter semelhantes qualidades o inimigo do nobre já é valorizado por ele. O inimigo concebido pela ética do escravo é oposto, é um mal que deve ser idealmente destruído. A ética do escravo é pautada pelo rancor covarde do espírito escravizado. Nietzsche diz que essa ética representa “o cheiro do fracasso de uma alma que envelheceu”.

Quem gosta de futebol percebe facilmente que o espirito do futebol é o da ética do nobre. Rivais engrandecem um ao outro. O desejo de vencer um time é proporcional ao tamanho. Vitórias sobre os grandes são vitórias maiores. Para fugir do caso carioca, o que seria do Inter sem o Grêmio, e vice-versa? Os clubes gaúchos se fizeram nacional a partir da disputa local. Sempre guerreando, os clubes se consolidaram grandes e nobres. Jogos se tornaram clássicos. Quem não teve rivais, ficou sem história. Descansou em paz.  


Um comentário:

  1. Eu como tricolor sinto o grande peso da rivalidade esse ano em que não ganhamos nenhum clássico. É um peso imenso que isso tem! E são as derrotas dos rivais na sequência, que esquentam o meu coração...haha

    Belo texto, Luã!

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