quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Água Rasa

   De mar para mar – Quando os povos ibéricos se lançaram ao mar, levaram nas caravelas prisioneiros, degradados, missionários e escritores. A cada grupo cabia uma determinada função, dentre elas, sem dúvida, os escribas exerciam a mais inútil. Os relatórios enviados as metrópoles tinham uma função quase decorativa. Apenas um esboço das impressões sobre as localidades recém-chegadas. Afinal, os textos ficavam com esses escritores dos mares, até regressarem a terra natal, onde seriam ofuscados pelas análises e definições dos própios capitães. Na dupla ibérica pioneira das grandes navegações, esses relatórios receberam a pessoal acunha de “cartas”, como as de Pero Vaz sobre o Brasil. Os ingleses, soberanos do mar por mais tempo, batizaram esses relatos burocráticos de “log”.



   Quando se passou a perceber a internet como um oceano, importaram-se os termos da navegação. Nasceram os “Web Logs” para aqueles primeiros navegadores digitais. Não demorou a se transformar o termo em uma frase de ordem: “we blog”. A história dos blogueiros iniciais, à deriva em mares nunca dantes navegados, escrevendo relatos sem saber direito sobre o quê e para quem, não nos é estranha. Também temos a necessidade de navegar, é preciso.



      Ideias como mergulho na praia de Ipanema – Na praia de Ipanema, o sol é escaldante, mas a água permanece fria. Por mais calor que se faça, os mergulhos são curtos, mas não menos necessários e refrescantes. Para evitar a cabeça quente, melhor vários banhos rápidos do que um longo, afinal, o sol se encarregará de deixar seco da mesma forma. Com os pensamentos funciona igual. Cabeça quente, banhos rápidos. A quantidade do que é dito sobre algo não pode ser considerado critério de verdade, sequer de validade. Se debruçar em um tema da mesma forma que uma galinha choca um ovo, garante conhecimento ou sabedoria sobre o assunto? Só para os  não frequentam a praia com medo do sol e da corrente fria do mar.
     
A pequena fábula de David Foster - Um dia, dois peixinhos nadavam juntos em águas calmas, quando um peixe grande e idoso aborda-os: “Olá peixinhos, como vai a água?”. Sem esperar a resposta, o peixão continua o seu caminho a nadar. Os peixinhos, agora parados, se olharam e perguntam um ao outro: “O que é água?
 
No fundo, vale a lei de Tales - Tudo é água. E fim de papo.

Um comentário:

  1. Foda! o sempre eficiente estilo aforístico está afiadíssimo, e não mais com a cara germanica que estamos habituados. '' Supondo que a verdade seja uma mulher'', bom trabalho no cortejo.
    Rafael

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