sábado, 24 de setembro de 2011

Samba de Orly - Um adeus



O mundo seguia suas turbulências dos anos 60. Enquanto astronautas pisavam calmamente na lua, Toquinho visitava o auto-exilado amigo Chico. Na sua despedida em novembro daquele 69, Toquinho mostra a Buarque um samba sem letra e confessa ser “um samba de saudade mesmo”, uma vez que partiria no dia seguinte de volta a pátria-mãe. A resposta de Chico foi uma canção de despedida.

   

Esse samba feito em parceria celebra desencontro obrigatório entre os dois, amenizado em forma de despedida. Orly é o nome do aeroporto de Paris, lugar de encontros e separações, chegadas e partidas, local também de pegar esse avião. Símbolo daqueles momentos, a música nacional pairando sobre outras terras distantes.

Construção é Top10 da MPB
Segundo o pequeno Toco em entrevista, Francsico teria feito os 4 ultimos versos no exato momento em que foi lhe apresentado o samba, já em tom de despedida:



Vê como é que anda
Aquela vida à toa
E se puder me manda
Uma notícia boa


O restante da letra, Hollanda compôs com Vinicius de Moraes.Até hoje as fontes divergem sobre os seguintes versos fruto da parceria:

Pede perdão
Pela duração                    

 Dessa temporada

Uma clara referência aos 5 longos anos de chumbo dos militares. Contudo,a esses versos existe uma versão alternativa, mãe da divergência histórica citada, ainda mais feroz:

Pede perdão
Pela omissão
Um tanto forçada


Até hoje não foi esclarecido se Chico os escreveu e o ex-diplomata de Ipanema o advertiu sobre a censura ou se foi o contrário com Vinicius o alertando.

Vai meu irmão
Pega esse avião
Você tem razão
De correr assim desse frio, mas beija
O meu Rio de Janeiro
Antes que um aventureiro lance mão

 
Todas as despedidas tem algo parecido: a saudade imediata, o desprendimento  automático, enfim, a dor do momento. Mas todas são de alguma forma únicas. Para marcar essa despedida como fruto do momento político do país, Buarque recorre à despedida mais importante da história do país: o adeus de Dom João IV a seu filho Pedro I. Para dar a noção da importância do Tchau joanino, é necessário recordar alguns acontecimentos anteriores: Com as invasões napoleônicas, o rei e a corte lusitana refugiam-se no Brasil. Aqui, abrem os portos, e criam uma estrutura administrativa na cidade maravilhosa. Após doe anos, uma revolta na cidade do Porto obriga a família real a retornar a terras lusas. É o momento da despedida entre os dons, João e Pedro, Rei e Príncipe mas também, e especialmente, entre Pai e Filho. Restaria a ambos, o sentimento tão luso que impotaram ao Brasil, a saudade.
Sabiam ambos qual seria a inevitável consêquencia dessa despedida. As palavras de João a Pedro foram:“Pedro, se o Brasil se separar de Portugal, toma a coroa para ti, antes que algum aventureiro lance mão dela.”
Até o Rei se despede

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