domingo, 25 de setembro de 2011

O maior time pequeno de todos - II

  Continuação do post sobre o Nottigham Forest

Evidentemente, um time recém promovido não é favorito para um campeonato que tinha entre seus competidores, os atuais campeões europeus. Mesmo assim, o time conquistou o Inglesão de 77/78, ignorando campeão europeu Liverpool, vencendo-o duas vezes. Feito que repetiu contra Arsenal, Everton e Manchester, este por sinal, levou de 4 dentro do Old Trafford. A campanha do Forest foi incontestável, em uma época que a vitória valia dois pontos, conseguiu ser campeão com 7 pontos de vantagem, sofrendo apenas 24 gols. Nesse campeonato estabeleceu o recorde de 42 jogos de invencibilidade, que seria superado só em 2004 pelo espetacular Arsenal de Henry.  No ano seguinte, 1979, a Europa conheceria o Nottigham. Antes, contudo, a equipe chegou à final da copa da liga inglesa contra o bom time do Southampton. Percebendo que os jogadores estavam demasiados tensos na véspera da decisão, Brian levou o time ao bar que freqüentava e encheu a cara com o elenco: “Melhor ter jogadores bêbados ou de ressaca que ansiosos” 



               Mas o grande feito do Nottigham ainda estava por vim. Depois de uma primeira fase  tranqüila, a Copa dos Campeões colocou frente a frente o campeão Inglês contra o campeão europeu. Liverpool contra Forest foi uma oitavas de final histórica. O time da cidade dos Beatles buscava o tricampeonato da Europa e era favorito, entretanto, o Nottigham estava no caminho. Com duas vitórias por 1 x 0, o Forest eliminou o poderoso Liverpool, nada poderia deter o time rumo ao título europeu. Nem os suíços do Grasshoppers nas quartas e nem o ótimo Colônia nas semis conseguiram parar o time do Clough. Em 29 de Maio, no estádio Olimpíco de Munique contra os suecos do Malmo, o time do Nottigham Forest era formado por: Shilton; Anderson, Clark, McGovern e Lloyd; Burns, Francis, Bowyer, Birtles e Woodcock; Robertson. Com a vitória de 1 x 0 sobre o Malmo, o Forest de Clough dominava a Europa.



O time foi formado por Clough, mas não se limitava só a ele. Os onze da equipe do norte da Inglaterra tinham história para contar também. A começar pelo goleiro Peter Shilton, sucessor de Gordon Banks na meta da seleção inglesa, lugar que ocupou por quase 20 anos. Shilton foi um goleiro ágil e atento, a força do Nottingham começava por ele. Raro são os goleiros que não tem um gol tomado como lembrança, ainda que magníficos. No caso de Peter Shilton são dois e, realmente, inesquecíveis: os gols de Maradona contra a Inglaterra na copa de 82. A zaga tinha no valente John McGoven sua referência. Capitão do time, um feroz marcador, levantou as taças do Forest. Anos antes, McGoven era um estudante universitário, quando foi descoberto por Clough que o raptou e fez trocar os estudos pelo esporte. O meio campo era clássico, mas apesar de leve com Francis e Bowyer era solitário. O ataque ficava por conta, especialmente, de Woodcock e Birtles, já que os centro-avantes da equipe nunca foram estáveis como a dupla. A história de Birtles é um daqueles contos de fada que o futebol proporciona: Garry Birtles era aplicador de carpetes no norte da ilha, quando Brian o viu jogar numa liga de peladas. Birtles custou duas mil libras. Sua trajetória lembra a do também vermelho Leandro Damião.

                                                            Peter Shilton

A magia dos acontecimentos nunca cansa de renovar o futebol. Coube a Birtles marcar o gol da vitória sobre o Hamburgo na final da Copa dos Campeões da Europa de 80, em Madrid. A pequena equipe do norte inglês era bi-campeã européia no estádio do poderoso Real Madrid. Estruturas do futebol estavam abaladas para sempre. Uma revolta contra o poder estabelecido era possível. E ainda o é, nós ensina a história desse time.

Também, ensina o Forest não há fábula que dure para todo sempre. A vida se carrega de levar embora o final feliz. A década de 80 não conheceu um Nottigham tão espetacular, apenas espasmos daquele time vencedor. Tal como para a economia brasileira, foi uma década perdida para o time. A eliminação da Copa da Uefa de 84 para o Anderlecht, em um jogo cujo o árbitro foi comprovadamente comprado, é sintomático da desilusão dos anos 80.                               

Em 89 e 90, o Forest foi campeão da Copa da Liga Inglesa, nessas temporadas o Forest chegou a disputar o título inglês para valer. Entretanto, foi batido primeiro por Liverpool e em seguida pelo Arsenal. Na copa da Liga de 89, o Nottigham participa como coadjuvante da tragédia de Hillsborough. Localizado em Sheffield, o estádio de Hillsborough, foi palco da morte de 96 torcedores do Liverpool, que jogava contra o Forest. A tragédia foi fruto da superlotação, gerada pela irresponsabilidade de dirigentes. Brian Clugh não perdou:”Football holligans? Well, there are 92 club chairmen for a start.” [ Holligans? Bem, temos 92 dirigentes de clubes para começar]

Os anos 80 são de Thatcher, não do Forest


Em 1993, as cortinas do espetáculo se fecham. O Nottigham é rebaixado, Brian Clough sai de cena. Ambos jamais voltariam a ser protagonistas. Porém o time não termina, o Forest continua jogando a segunda divisão inglesa, com boas chances de ser promovido. Se vai conseguir o acesso fica a conferir. Se conseguirá um dia ser tudo que já foi, é difícil, muito improvável.  Poucos times, no entanto, tem em sua história uma lição tão fantástica para o futuro. Falta apenas um novo Brian Clough.   



 "Não quero epitáfios com frases profundas nem nada desse tipo. Eu contribuí com algo. Espero digam isso de mim e, tomara, que alguém tenha gostado"
   Brian Cloug sobre seu legado


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