quarta-feira, 28 de setembro de 2011

MPB, uma garota – Essa moça tá diferente

            Ontem, 27 de setembro, foi o dia da MPB, a tão querida Música Popular Brasileira. Definir o que é MPB é uma tarefa ingrata. O que é MPB? MPB é um gênero ou uma mescla de vários? Raul Seixas, por exemplo, “fez” MPB?  

 A também prezada Wikipédia diz que “A MPB surgiu a partir de 1966, com a segunda geração da Bossa nova. Na prática, a sigla MPB anunciou uma fusão de dois movimentos musicais até então divergentes, a Bossa Nova e o engajamento folclórico dos Centros Populares de Cultura da UNE, os primeiros defendendo a sofisticação musical e os segundos, a fidelidade à música de raiz brasileira”. O Livro de Ouro da MPB, de Ricardo Albin, por sua vez, aponta o surgimento da MPB nos anos 30.

Não há consenso. Certo é que a MPB teve seu auge nos anos 60 e 70. Contudo, o sucesso era fruto da própria renovação que os músicos impunham a obra. Se considerarmos a data da Wikipédia, mal a MPB surge, ela já é mutante, acatando todos os tipos de influência. Chico, auto-exilado na Itália em 1969 abre seu álbum IV, lançando em 1970, percebendo esse movimento:

                                         

Essa moça tá diferente
Já não me conhece mais
Está pra lá de pra frente
Está me passando pra trás

Essa moça tá decidida
A se super modernizar
Ela só samba escondida
Que é pra ninguém reparar

Chico na Itália observava de longe a absorção de instrumentos e estilos, notadamente a guitarra e o rock. O samba de Chico ainda estava lá, mas perdia espaço gradualmente para o “moderno” que invadia a MPB.  

Eu cultivo rosas e rimas
Achando que é muito bom
Ela me olha de cima 
E vai desinventar o som

Os anos 60, em especial os movimentos de contestação do ano de 68, colocarem em cheque valores arraigados da cultura ocidental. Palavras como “desconstrução” e “desinventar” estavam na pauta do dia. A rosa perdia espaço para o astronauta.

Faço-lhe um concerto de flauta
E não lhe desperto emoção
Ela quer ver o astronauta
Descer na televisão

Essa ruptura na MPB teve destaque com Caetano e Gil nos Festivais da Canção, cuja exibição pela TV atingia todo o país. Pela tela da TV, a MPB mudava sua imagem, ficava de certa forma, mais sedutora

Mas o tempo vai                                          
Mas o tempo vem
Ela me desfaz
Mas o que é que tem
Que ela só me guarda despeito
Que ela só me guarda desdém

Mas o tempo vai
Mas o tempo vem
Ela me desfaz
Mas o que é que tem
Se do lado esquerdo do peito
No fundo, ela ainda me quer bem

Os protagonistas que deixaram a moça diferente, Gil e Caetano, abraçavam a guitarra sem esquecer os ritmos de suas terras nem o tão amado samba de Chico. O álbum Tropicália, como todo o movimento tropicalista, demonstra bem isso: ruptura sem esquecimeto. Se havia um desdém aparente, no fundo a transformação pela qual passava a MPB não renegava Chico, apenas abria um leque de novas concepções. O que sempre favorece os gênios.

Essa moça é a tal da janela
Que eu me cansei de cantar        
E agora está só na dela
Botando só pra quebrar



A moça ficou diferente, no fim das contas, só para poder requebrar. A janela que se abriu permitiu o astronauta entrar, mas na sua mão havia uma rosa ainda.

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