sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Tentativa de uma filosofia melancólica II

Continuação do post sobre Melancolia, de Lars Von Trier

Indiferença, Medo e Hipocrisia - Muitos nilismos

Com a proximidade de mais um dia do apocalipse, em 2012, Von Trier resolve brincar com o tema para tratar de niilismo, angústia e finitude. Assumido leitor de Nietzsche, o diretor escolhe uma parábola universal do filósofo para realizar seu fim dos tempos: “Em algum remoto rincão do universo cintilante que se derrama em um sem número de sistemas solares, havia uma vez um astro, em que animais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi o minuto mais soberbo e mais mentiroso da “história universal”: mas também foi somente um minuto. Passados poucos fôlegos da natureza congelou-se o astro, e os animais inteligentes tiveram de morrer. Assim poderia alguém inventar uma fabula e nem por isso teria ilustrado suficientemente quão lamentável, quão fantasmagórico e fugaz, quão sem finalidade e gratuito fica o intelecto humano dentro da natureza. Houve eternidades em que ele não estava: quando de novo ele tiver passado, nada terá acontecido. Pois não há para aquele intelecto nenhuma missão mais vasta que conduzisse além da vida humana” Von Trier materializa esse congelamento em um planeta de cores frias: o Melancolia.

O não dito é sempre eloqüente, ainda mais quando se trata do diretor dinamarquês. Os fins do mundo sempre são noticiados, seja cenas da reação pelo mundo ou uma narração desesperada em um rádio. Em Melancolia, essa ponte com o mundo exterior não existe, essa realidade que quer ser universal é ignorada. A mídia, ou mesmo as outras pessoas, são esquecidas no fim do mundo particular que é criado. “Não existe vida fora da terra” grita a justiça. Não há nem extraterrestres, nem deuses pra socorrer a vida. Ou como diria Raul “Jamais olhei pro céu, meu disco voador além”.  A certeza de Justine é sobre o planeta, mas também é sobre os limites daquela mansão, não existe vida fora dali.


Assim falou Zaratustra aponta três doenças principais no homem moderno: indiferença, medo e hipocrisia. A indiferença à vida fica por conta de Justine, o medo pelo desconhecido aflige Clare. A hipocrisia nos valores e na moral é personificada em John. Von Trier usa uma imagem muito próxima a de Zaratustra.  O Zaratustra de Nietzsche trata a luz da lua como o conhecimento hipócrita. A luz da lua é reflexo apenas, não nos aquece, é distante; não nos toca. Zaratustra quer que o conhecimento seja como a luz solar: nos aquece, faz crescer a vida, abraça. O sol é luz, a lua é sombra. Zaratustra ataca quem quer contemplar o conhecimento sem senti-lo e amá-lo: “Ó hipócritas lascivos e melindrosos! Falta-vos a inocência do desejo por isso agora caluniais o desejo

O melancolia é uma nova sombra. John se apaixona pela luz do melancolia em seu afã científico. John, o dono da mansão, esbanja sua hipocrisia em diversos momentos: “Você [Justine] tem que ser feliz, eu paguei”; joga as malas da sogra fora, mas o mordomo as recolhe; sabe que nada acontecerá, mas se previne com mantimentos. O suicídio de John é o auge da sua hipocrisia. Findada a hipocrisia, sobra a indiferença justa e o medo claro. Contra a razão fria, contra a hipocrisia cientifica racional o Melancolia dança a dança da morte.

Entendendo Hitler para tocar Wagner

Os artistas são um grande perigo quando não estão a servir a moral e virtude geral da sua época. Na atualidade, por exemplo, a virtude da arte é a capacidade de entreter. Mas se conseguem ir além desse espírito do tempo e realizar uma arte soberana, demonstrando força, ascendem centelhas infinitas de revoluções intimas. Caso fracasse, o artista procurará outras formas de expandir suas potencialidades. Aí mora o perigo, que nos diga segunda guerra mundial. Hitler foi o artista frustrado que mais ferozmente se vingou do mundo. A frustração do artista é proporcional ao tamanho da sua ambição. Calculemos, portanto, o tamanho da frustração de Adolf pela sua grandiosa ambição.


Dentre todos os tipos de artistas frustrados, os publicitários são os mais explícitos, vingativos e numerosos. A publicidade é anti-arte, o reverso da criação. Qualquer um que se julgue dotado de uma capacidade diferenciada de expressão busca um meio de exprimi-la. Não há tantos meios quantos desejos. Resta a maneira lúdica que o sistema oferece: propaganda. Publicidade, a salvação dos artistas medíocres e frustrados.

Melancolia é demais para vocês, publicitários. [Até o] Nada é demais para você, publicitário. Nem o nilismo alcança vocês.  Lars entende Hitler, pois entende os publicitários. E mais, compreende o niilismo passivo de ambos. O publicitário mais famoso de todos os tempos foi ministro do governo nazista, Goebles.
Enquanto isso, cavalgam as Valquírias…

Time entende Hiter


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